Pioneiros do Plantio Direto

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Os Campos Gerais antes do Plantio Direto

Historiadores apontam que até 1870, as terras dos Campos Gerais eram usadas apenas para criação de gado, visando a comercialização do leite e da carne. Esse cenário começa a mudar com a extração de madeira e cultura da erva mate, que domina a economia paranaense.

Quando os holandeses começaram a se instalar em 1911, cultivavam uma terra entre as cidades de Ponta Grossa e Castro. A fazenda tinha 10 mil hectares, solo fraco e arenoso, predominava o campo nativo com pequenas matas próximas a rios e córregos. Os imigrantes constataram que o clima era mais propicio para o desenvolvimento da pecuária de leite, e passaram a se dedicar a essa atividade. Em julho de 1925, fundaram a “Sociedade Cooperativa Hollandeza de Laticínios”, a primeira cooperativa de produção do Brasil, hoje, a Batavo.

Nos meses de agosto ou setembro, os pastos eram queimados e durante alguns meses, o gado comia a nova grama que surgia depois da queimada.

Queimada de restos de culturas para novo plantio. Foto: Acervo pessoal de Franke Dijkstra

Tentativas de melhorar os solos fracos e pouco profundos da região começaram nos anos de 40 e 50. Antes, produzia-se apenas batata-doce, batatinha e milho para consumo na pecuária, caracterizando a agricultura de subsistência. Não se fazia a ensilagem e tudo era trabalhoso. Porém, com a chegada dos tratores cria-se a possibilidade de arar grandes áreas, e a cultura do arroz de sequeiro se espalha em grande escala, por conta da facilidade em cultivá-lo e por não exigir o tratamento da terra com calcário, uma adubação com hiperfosfato era suficiente. Como não havia herbicidas, após dois anos devia-se mudar a cultura para terras de campo virgem, livres de plantas daninhas.

Para auxiliar os imigrantes com o cultivo das terras dos Campos Gerais, a Holanda passou a enviar técnicos para o Brasil em 1951, que vinham através de uma Cooperativa Central de Imigração e Colonização, criada dentro do CCLPL (Cooperativa Central de Laticínios do Paraná LTDA), que reunia parte da produção da Cooperativa Batavo, Cooperativa Castrolanda e Cooperativa Agropecuária de Arapoti. A CCLPL fazia os contratos e viabilizava a vinda dos técnicos, as colônias de Castro e Carambeí  providenciavam a moradia e o transporte, enquanto a Holanda ficava responsável por demais despesas.

Os técnicos e suas principais atividades

J. Eigenberg chegou ao Brasil no 2° semestre de 1951, e foi o primeiro técnico enviado da Holanda. Para ajudar os imigrantes, organizou cursos de agricultura, propagou a silagem da planta inteira do milho, realizou experiências de adubação em campos virgens.

Leendert Hartman aportou no país em 1957, e ensinou aos imigrantes a composição e produção de rações balanceadas, fundou uma escola agrícola em Castrolanda e destacou-se na fundação da Colônia de Arapoti.

Em 1960, Pieter Bouwman assumiu o cargo e exerceu grande influência sobre os colonos, era popular e alcançou grande desenvolvimento durante sua estadia. Oferecia assistência técnica para as cooperativas, dava aulas em escolas agrícolas, e seu arquivo agrário tornou-se indispensável para os agricultores. A contribuição dele vai além dos cuidados com o solo: em suas aulas ensinava também princípios financeiros de administração, aperfeiçoava o português dos colonos. Tratou também sobre a importância de fazer excursões para aprender técnicas novas em relação ao manejo da terra e que o Brasil era muito maior que as colônias holandesas, portanto era necessário adaptar os conhecimentos às condições daqui.

E. J. Kloosterman ficou no cargo de 1966 a 1969, entre suas principais contribuições destaca-se o envolvimento com a criação do curso de agricultura no Instituto Cristão, graças ao dinheiro vindo da Agência de Financiamento para Projetos de Desenvolvimento Internacional (ICCO), organização holandesa ligada às igrejas protestantes na Holanda, que financiou a construção do colégio, de um restaurante, escola e casas para os funcionários. Ensinou aos agricultores que o resultado econômico e financeiro só é possível com a contabilidade de receitas e despesas. Organizava reuniões com os produtores uma vez por ano, para avaliar se a propriedade tinha dado lucro ou prejuízo. Foi pioneiro na implantação do sistema LOVO.

Van Der Schaaf foi o último técnico enviado, e chegou aos Campos Gerais em 1970. Prestou serviços pioneiros para criação do Departamento de Assistência Técnica (DAT), núcleo de orientação agropecuária implantado dentro da Cooperativa Central de Laticínios.

A introdução do Plantio Direto e a Fundação ABC

O engenheiro agrônomo Hans Peeten (o primeiro da esq.), um dos idealizadores da Fundação ABC, com agricultores dos Campos Gerais. Foto: Acervo pessoal de Franke Dijkstra

Desenvolvido na Inglaterra, o sistema de plantio direto foi introduzido primeiramente nos Estados Unidos, em meados da década de 50, e de lá se espalhou para vários países. Os escritores apontam indícios da utilização do plantio direto desde os egípcios, mas nunca foi comprovado.

Nos Campos Gerais, a necessidade de um sistema que conservasse a terra começou no final da década de 60, quando os colonos, observando as oportunidades do trigo e da soja, passaram a se dedicar mais à agricultura.  Logo, perceberam a aceleração da degradação do solo, devido à tecnologia disponível na época, a queima da palha e os intensos processos de preparo de solo.

Cultivo de culturas através do sistema convencional. Foto: Acervo Pessoal de Franke Dijkstra

Data de 1968 o primeiro experimento do SPD no Brasil: na colônia de Não-me-Toque, testes foram conduzidos pelo engenheiro agrônomo, Paulo Leo Ramos. Em 1971, na cidade de Londrina, foram registradas as primeiras pesquisas guiadas pelo engenheiro agrônomo Francisco Terasawa, através do Instituto de Pesquisa Agropecuária Meridional, apoiado pela ICI Brasil e Missão Agrícola Alemã.

Cultura do SPD começa a ser testada nos campos experimentais. Foto: Acervo pessoal de Franke Dijkstra

Um ano mais tarde, em 1972, a Cooperativa Batavo arrenda o primeiro campo demonstrativo experimental, com seis hectares. Algum tempo depois, adquire uma área de 13 hectares, também para testes. Outros campos experimentais foram produzidos em cidades vizinhas, e por outras instituições e fazendeiros, somando 134 hectares, nos quais foram produzidos desde soja e milho à feijão e batatas. Entendia-se, com base nas condições de solo, clima, topografia e vegetação natural, que o que fosse aprovado nos campos experimentais, seria aplicável em qualquer solo da região.

Colheita e plantio em 1977: com a técnica do SPD ganhava-se 15 dias do plantio e produção. Foto: Acervo pessoal de Franke Dijkstra

Os campos demonstrativos experimentais são mantidos até hoje, a maioria através de institutos de pesquisa. Nos Campos Gerais, a Fundação ABC, fundada em 1984, cumpre esse papel, os seus CDEs estão sempre testando novas formas de aprimorar e diminuir o custo da produção agrícola. Seus principais experimentos consistem em testar insumos e novas máquinas, avaliar sistemas de produção, rotações de culturas, custos de produção e desenvolver alternativas para aumentar a produtividade. A ABC também atua em parceria com a Embrapa, IAPAR, Ocepar, Universidade Estadual de Ponta Grossa e Universidade Federal do Paraná, concentrando assim em locais distintos as pesquisas realizadas por essas instituições e acompanhando os trabalhos realizados.

Em 1981, Elizeu Alves, então presidente da Embrapa, reconhece os benefícios do SPD e passa a divulgar a técnica através da Embrapa. Foto: Acervo pessoal de Franke Dijkstra

A Fundação ABC é hoje referência no segmento de pesquisa agrícola, e sua história é contada em diversos institutos de pesquisa mundo afora. Em entrevista Franke Dijkstra, um dos seus fundadores e membro atuante até os dias de hoje, pode contar um pouco mais sobre essa história:

A técnica do Plantio Direto

O Sistema do Plantio Direto (SPD) consiste em deixar a palha e os restos vegetais da produção colhida na superfície do solo, revolvendo apenas no sulco, onde são depositadas sementes e fertilizantes. Acredita-se que para o melhor aproveitamento do solo e sucesso do SPD é fundamental que seja realizada a rotação de culturas e o manejo integrado de pragas, doenças e plantas invasoras, que são tratados apenas com o uso de herbicidas.

Entre os principais benefícios do SPD, encontra-se o aumento da atividade microbiana no solo. Foto: Acervo Pessoal de Franke Dijkstra

Entre as principais vantagens desse sistema estão a redução da erosão, melhoria de condições físicas e fertilidade do solo, aumento do teor da matéria orgânica, redução de impactos ambientais, aumento da atividade biológica do solo, redução da oscilação térmica e aumento da água armazenada no solo.

O SPD também possui vantagens econômicas como o aumento da vida útil das máquinas, controle sobre a época da semeadura, economia com fertilizantes e combustíveis (o consumo de diesel chega a ser 70% menor). Estima-se, que o custo de produções possa ser até 14% menor do que nos sistemas convencionais.

Ainda este ano, o Sistema de Plantio Direto Brasileiro, passou a figurar como modelo de agricultura, indicado pela FAO (Fundação das Nações Unidas para a Agricultura).

Autor: Fernanda Cheffer

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