André Rieu e o velho debate da cultura como entretenimento
Responda rápido: cultura é entretenimento ou é arte? Ou ambos? O debate, sempre presente no âmbito da música e do cinema, ganhou impulso na última semana com a chegada do maestro holandês André Rieu a São Paulo. Conhecido por grandes espetáculos visuais em que toca valsas vienenses e trilhas sonoras, ele faz uma impressionante série de 24 shows na cidade – todos eles praticamente esgotados, com ingressos que chegam a custar 600 reais. Com milhões de fãs ao redor do mundo, os números de Rieu impressionam: o violinista já vendeu mais de 30 milhões de CDs e DVDs – 1 milhão de DVDs só no Brasil. Seu sucesso, porém, levanta questionamentos no meio erudito. Os mais puristas o acusam de distorcer a imagem da música clássica. E até os músicos mais jovens, ainda que também influenciados pela música pop, dizem que o caminho de Rieu não deve ser seguido por outros. A maioria reclama que o público leigo pode acabar considerando Rieu um exemplo da música clássica tradicional quando, na verdade, não é.
No mês passado, o compositor e crítico musical Leonardo Martinelli escreveu um artigo para a revista Concerto no qual chama Rieu de “falsificador”. “Ele vende uma imagem falsificada da música clássica. A música clássica não é apenas aquilo”, diz Martinelli ao site de VEJA. “Ele distrai o seu ouvido com toda aquela parafernália visual. Tanto que isso é estatístico: ele vende mais DVDs do que CDs”, afirma, e propõe um desafio: “Vamos ouvir a música de Rieu de olhos fechados, tirar as luzes, o glitter e os efeitos e ver se a ideia se sustenta.”