Projeto teatral une jovens brasileiros e holandeses

 In Brasil Holanda, Clipping

A ideia do projeto vem sendo acalentada há tempos pela coreógrafa Rose Akras. Brasileira radicada há 20 anos em Amsterdã, Rose via no trabalho do Made in the Shade – grupo que junto com a produtora multicultural Cosmic deu origem ao MC Theater – um foco que ainda parecia faltar a projetos no Brasil.
“Era um grupo que eu acompanhava bastante. Os trabalhos falavam muito sobre a identidade dos imigrantes das ex-colônias holandesas aqui em Amsterdã e nos centros urbanos”, descreve Rose Akras. “Sempre achei o trabalho deles muito interessante no sentido de não serem trabalhos que tratassem de explicar o passado, mas – hoje em dia uma palavra muito na moda – de ‘empoderar’ as pessoas que tinham um histórico com as ex-colônias holandesas, mas que estavam aqui em Amsterdã e que teriam que sobreviver aqui, com os dados da Holanda – o acento, a língua, a comida, o clima, a maneira de pensar, principalmente, a maneira de agir.”

Questões similares
Assim como acontece em Amsterdã com os jovens descendentes de imigrantes das ex-colônias e de países muçulmanos, em São Paulo os filhos e netos de migrantes nordestinos também passam por fortes questões de identidade. Já não têm uma relação com o país ou estado de origem de seus pais ou avós, mas ao mesmo tempo não estão totalmente inseridos na cultura da cidade em que vivem.
“A ligação que eu vejo é exatamente essa. E as coisas que eu vejo no Brasil, mesmo na Cia de Teatro de Heliópolis, têm essa função de explicar o passado, de recuperar de onde eu vim. Se eu sou negro, quais são as minhas raízes; se meu avô é do Nordeste, quais são as minhas raízes. Por isso penso que será superlegal o MC vir pra cá e trabalhar com estes jovens a possibilidade de ver onde você está agora, como você lida com a sua situação agora”, destaca Rose. “É claro que importa de onde você vem, mas se você só olhar para o passado, você vai ter uma ligação tão forte com o seu país ou seu estado de origem que vai ser difícil se tornar um ‘acionista’ na situação em que você realmente está.”

Primeiro contato
Embora os planos para o projeto já venham de alguns anos, o primeiro contato real acontecerá agora em julho, quando os profissionais do MC Theater vão ao Brasil para uma primeira visita, preparando o terreno para os workshops, que acontecem em outubro. “Já fizemos este tipo de intercâmbio com outros países. O que vamos fazer primeiro é uma semana de workshops em São Paulo com jovens de Heliópolis, e depois quatro deles serão selecionados para vir por três semanas a Amsterdã, acompanhados por dois profissionais. E na Holanda também vamos selecionar outros quatro jovens, que ainda não trabalham com teatro profissionalmente, mas que fazem teatro a sério, para um projeto conjunto que iremos apresentar aqui. Além disso os dois profissionais que vêm do Brasil também darão workshops em Amsterdã”, conta Mike van Alfen, líder do projeto no MC Theater.

“Nós nunca fizemos um projeto assim num país onde as pessoas não falassem inglês, francês ou alemão, então será um desafio”, comenta Mike. E aí entra novamente a brasileira Rose Akras, que ao longo do processo de intercâmbio, além da preparação corporal dos atores, também fará a mediação entre os idiomas, para que todos se entendam.

‘Hora Final’
O resultado poderá ser visto num espetáculo em Amsterdã no final deste ano. “O projeto que vamos fazer aqui se chama ‘Hora Final’. Você tem uma situação em que tem apenas mais uma hora para viver e os oito atores têm que levar isso para o palco. O que vão dizer uns para os outros? O que irão dizer para o público? O que você ainda quer fazer se tiver só uma hora para viver? Esta é a ideia para a apresentação que vamos montar”, explica Mike van Alfen, ressaltando que, embora se trate de um trabalho com atores amadores, não será menos profissional por isso. “Nos grupos com que trabalhamos no passado há com frequência jovens que têm a ambição de trabalhar profissionalmente com teatro, música, dança, e eles estão dispostos a investir num projeto assim. Queremos qualidade artística e um bom resultado.”

E o diretor holandês espera que a troca entre as duas companhias dê mais frutos. “O que nós secretamente esperamos quando trabalhamos com uma organização é que o trabalho dure mais do que um único projeto. Nós do MC pensamos é que, atualmente, nas grandes cidades, os jovens têm o mesmo tipo de ideias e problemas, e as mesmas maneiras de contar histórias, tanto em conteúdo como forma, e que há similaridades com outras grandes cidades no mundo”, diz Mike. “É claro que a situação das pessoas não é a mesma, mas existe uma afinidade que permite com que elas possam se comunicar bem e se compreender. Por isso achamos interessante e importante que este tipo de encontro possa acontecer, para pôr pessoas de lugares completamente diferentes do mundo em contato e ver o que pode surgir disso.”

 

Para ler na íntegra, clique aqui. 

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