Cooperativas agropecuárias são mais competitivas na América Latina
As cooperativas agropecuárias contribuem para a inclusão de pequenos agricultores e da agricultura familiar a cadeias de valor na América Latina, afirmaram no início do mês de junho de 2012 duas agências das Nações Unidas. “As cooperativas têm um papel fundamental no processo de desenvolvimento econômico e social de uma comunidade, uma economia e um país”, disse à Inter Press Service (IPS) o diretor para América Latina e o Caribe da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Raúl Benítez.
No contexto da celebração de 2012 como Ano Internacional das Cooperativas, Benítez afirmou que se deve incentivar este tipo de organização produtiva, essencial para a segurança alimentar e a redução da pobreza. “Hoje o mundo produz mais alimentos do que consome, o problema é que as pessoas não podem ter acesso a eles porque estão sem trabalho ou excluídas socialmente. Então, a cooperativa promove a inclusão e, portanto, é vital para a segurança alimentar dos habitantes”, explicou.
Segundo a definição da Organização das Nações Unidas (ONU), o cooperativismo é uma forma de organização social e econômica da produção baseada em princípios como a associação voluntária e aberta, o controle democrático e a participação dos associados, a autonomia e independência, a educação, capacitação e informação, a cooperação e a preocupação com a comunidade. Para Benítez, o cooperativismo se ergue sobre um conceito “muito democrático”, no qual os participantes “valem por serem pessoas e não pelo capital que colocam”.
“Sem preconceito quanto a cooperativas com grandes, médios e pequenos produtores, ou nas quais convivem diferentes status de produtores”, este tipo de empresa “se baseia em um modo de pensar de maneira inclusiva, onde se procura não deixar os produtores de fora”, acrescentou Benítez. O diretor da FAO liderou, na sede regional da agência em Santiago, no Chile, as comemorações do ano internacional, que tem por meta criar maior consciência sobre a contribuição das cooperativas para o progresso econômico e a consecução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
Também se busca fomentar a constituição e o crescimento do setor, e levar os governos e órgãos reguladores a implantarem políticas e normas que contribuam para esse fim. Uma medida do potencial do setor é a Aliança Cooperativa Internacional, que reúne 267 organizações de 96 países que representam mais de um bilhão de pessoas. Na América Latina existem exemplos de sucesso, como a Confederação Nacional de Federações de Cooperativas e Associações Silvoagropecuárias do Chile, a Cooperativa Vitivinifrutícola de La Rioja, da Argentina, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), e o Conselho Nacional de Cooperativas da Costa Rica.
Trata-se, também, de um modelo muito competitivo, segundo Benítez. “Um terço da produção industrial da Argentina provém de cooperativas. No Brasil, 37% do produto agrícola é gerado pelas cooperativas, na Costa Rica, 18% da população está cooperativada”, e o Chile tem mais de 1,3 mil instituições desse tipo. São países onde as cooperativas têm um impacto bem importante e se mostram muito competitivas na hora de produzir e participar do mercado”, ressaltou.
A FAO e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) reuniram em Santiago mais de 250 agricultores cooperativistas do Chile e dirigentes de cooperativas dos outros três países mencionados sob o lema “As cooperativas ajudam a criar um mundo melhor”. A produção cooperativa habilita “uma distribuição de renda mais justa, sem fins lucrativos, porque o lucro é dividido entre os associados”, explicou Benítez.
Antonio Prado, secretário-executivo adjunto da Cepal, disse que “insistimos no tema da igualdade: no imperativo de fechar brechas que ainda persistem na região em matérias étnicas e de gênero, de produtividade, de desenvolvimento territorial e social. As cooperativas demonstraram sua efetividade na redução desse tipo de brecha”.
Para Benítez, os desafios que as cooperativas enfrentam são distintos e dependem de cada região e de cada país. “Naquelas nações onde o contexto é apropriado, o desafio principal é como fazer para que mais gente se incorpore a esta forma de encarar o processo produtivo”, explicou. Já nos países “onde o contexto não é o mais apropriado, o desafio é conscientizar as autoridades políticas e a população em geral de que existe uma alternativa de organização da produção que permite um sistema de inclusão social relevante”, ressaltou.
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