O povo holandês e a tradição na produção láctea
Domburg Melktent 1900 – Cartão Postal (Acervo APHC)
“Bûter, brea, en griene tsiis; wa’t dat net sizze kin, is gjin oprjochte Fries“.
“Manteiga, pão e queijo verde: se não consegue dizer isso, você não é um verdadeiro frísio“.
Essa frase do famoso herói frísio Pier Gerlofs Donia (1480-1520), usada por ele para distinguir quem entre os seus prisioneiros era frísio, alemão ou neerlandês, representa muito bem uma cultura láctea presente ao longo da história da Holanda.
O leite, além de ser uma fonte de cálcio, proteína e gordura, é também um ingrediente base em muitos pratos da culinária holandesa. Usado tanto na produção da manteiga, como na do queijo e do pão, ele se tornou um alimento importante na cultura dos Países Baixos.
No período medieval, o leite misturado ao mel, era a bebida mais apreciada pelas mulheres holandesas, mais tarde, na Era de Ouro da Holanda, no século XVI, com a expansão marítima e da rota do comércio de especiarias no Oriente, o leite passou a ser consumido com o incremento de sabores inusitados como cravo, canela e cardamomo, posteriormente ganhou um novo elemento, com a chegada da exótica bebida turca que se popularizava na Europa, o café, misturado com leite, era motivo de deboche dos franceses, que preferiam a iguaria em seu estado puro.
Já no séc. XVII, o leite era produzido no campo para que em seguida fosse encaminhado para a cidade. No entanto, é importante ressaltar que nessa época não havia nenhum controle de qualidade que regulamentasse a produção camponesa desse gênero alimentício, mas mesmo assim, a qualidade da manteiga holandesa (especialmente das produzidas nas cidades de Delft e de Leiden) era famosa no mercado internacional.
Melkmeid, Jan de Visscher, Nicolaes Pietersz. Berchem, 1643 – 1701 (Reprodução Rijksmuseum)
Na mesma época, os neerlandeses foram apelidados ironicamente de “comedores de queijo” pelos alemães, pelo fato de produzirem e consumirem queijo em grandes quantidades. Entretanto, nem mesmo o consumo nacional era capaz de absorver toda a produção desse alimento. Por causa disso, a nação lucrou muito com a exportação do seu queijo para os países vizinhos, o que além de influenciar na sua economia, também contribuiu para o aperfeiçoamento das técnicas queijeiras.
Melktijd, Jacob van Strij, 1800 – 1815 (Reprodução Rijksmuseum)
Texto: Lucas Kugler – Graduando em História Bacharelado pela UEPG e estagiário do Núcleo de História e Patrimônio do Parque Histórico de Carambeí.