Herança holandesa – A tradição do tapete sobre a mesa
A Guilda dos Tecelões, Rembrandt, 1662
Quem já adentrou a uma residência de imigrantes holandeses ou de famílias de descendentes, já deve ter se deparado com um costume um tanto quanto inusitado aos olhos brasileiros, o tapete posto sobre a mesa. Existem algumas vertentes que explicam esse hábito, alguns historiadores afirmam que o costume surgiu por volta do século XVI, conhecido como o século de ouro da Renascença Holandesa, por conta das transformações urbanas, culturais e sociais provindas das investidas mercantilistas do Reino Holandês na rota oriental de especiarias e artefatos de luxo.
Com o crescimento financeiro da classe comerciante, muitos produtos originários da Ásia ganharam a Europa, ter uma peça de tapeçaria persa ou turca era sinônimo de ostentação e evidenciava o poder aquisitivo daquela família que o possuísse, os tapetes orientais eram delicados demais e muito valorizados para serem deixados no chão, por esta razão, eram postos sobre a mesa, demonstrando bom gosto e poder, já que apenas os ricos poderiam comprá-los pelo seu alto custo.
A moça com copo de vinho, Johannes Vermeer, 1660
Pode-se notar nas obras de grandes pintores holandeses do período como Vermeer e Rembrandt a presença emblemática destas peças, o tapete sobre a mesa é notado em um grande número de pinturas, demonstrando o modismo da época que engrenava entre as classes mais abastadas. Uma outra vertente da história, conta que pelas condições climáticas da Holanda, com um inverno rigoroso, as famílias usavam deste artefato para produzir calor no ambiente, desta forma, se protegendo do frio. Independente de sua origem, o hábito resistiu e perpetuou durante séculos, as famílias de imigrantes que chegaram a Colônia Carambehy em 1911, trouxeram consigo esta tradição, apesar do clima tropical, adornavam suas residências com grossos tapetes sobre as mesas, fazendo lembrar seu local de origem.
Reprodução do interior de uma casa de imigrante em 1913 na Colônia Carambehy – APHC