A tradição do Segundo dia de Páscoa na comunidade de imigrantes holandeses
A segunda-feira pós Páscoa é considerada um feriado nos Países Baixos, intitulado de Tweede Paasdag, em neerlandês, ou Segundo dia de Páscoa, é uma tradição que vem do período medieval e permanece até os dias de hoje na Bélgica, Alemanha e Holanda. Na Idade Média, a igreja católica fez um forte argumento para um segundo feriado, o motivo é realmente muito simples: isso daria às pessoas um tempo livre extra. Durante séculos a segunda-feira de Páscoa foi e é considerado um dia de entretenimento.
Esses dias duplos de feriados cristãos nos Países Baixos têm um duplo significado: religioso e social. A celebração eclesiástica das festividades mais importantes do cristianismo (Natal, Páscoa e Pentecostes) durava 8 dias em algumas regiões da Holanda, tendo as demais regiões comemorando apenas o dia principal, desta forma, foi necessário unificar a tradição.
Em 1.618, foi determinado que o Natal, a Páscoa, a Ascensão e o Pentecostes se tornassem, além dos domingos, os feriados religiosos oficiais que também eram celebrados às segundas-feiras, mas foi somente em 1.815 que se tornou um feriado oficial em todo o país.
A data entrou para o calendário oficial por meio de decreto governamental e só teve a chancela da Igreja após a Reforma. O feriado é comemorado em toda a Holanda e quando as condições climáticas estão favoráveis, as famílias se divertem em ambientes abertos como parques, praias, passeios de bicicleta e zoológicos. Em algumas cidades acontece o tradicional Paasvuur, fogueira de Páscoa.
Passeio a cavalo e piquenique no Rio São João, década de 1930 (Acervo APHC)
Piquenique no Rio São João em meador da década de 1930 (Acervo APHC)
Quando os imigrantes holandeses chegaram a Colônia Carambehy em 1911, trouxeram com eles a tradição da sua terra mãe, por conta da rigidez da religião protestante em se guardar o domingo para orações e atividades dedicadas ao Senhor, o Segundo dia de Páscoa, era quando toda a Colônia podia comungar de fato de um dia de descanso e diversão, onde eram realizados os piqueniques, passeios aos rios, brincadeiras, esportes e passeios a cavalo. Podemos notar a importância que essas datas tiveram na colônia por meio de depoimentos de membros da comunidade, Tônia de Geus Sijperkes relata:
As festas da Colônia eram feitas no piquete (campo) do terreno de Leendert (para plantar milho e arroz). Neste mesmo terreno, comemorava-se também a festa do aniversário da Rainha da Holanda, por muito tempo guardava-se o segundo dia após o Natal, Páscoa, Pentecostes fazendo piqueniques nos rios com toda a comunidade, que iam a cavalo ou carroças, nesta época o rio São João era muito procurado.
Passeio na cachoeira Foz do Tamanduá na década de 1950
Outro membro do grupo de imigrantes, integrante da família Los, ao contar sobre a epopeia de seus antepassados em terras brasileiras também descreve o lazer e o Segundo dia de Páscoa como algo memorável na antiga colônia:
Os piqueniques, elaboradamente preparados, não podiam faltar, como parte dessas atividades de lazer.
Passeio a Cavalo ao rio na década de 1920
Foppe de Jong, ao narrar sua aventura de imigrante no Brasil, também descreve essa festividade em sua autobiografia:
Sim, felizmente havia lugar ainda para o romantismo na colônia. Muitas vezes organizavam-se piqueniques, principalmente no segundo dia de Natal, na segunda-feira de Páscoa, ou na segunda-feira de Pentecostes, ou ainda nos muitos feriados nacionais.
Piquenique no rio na década de 1940
Com tanto trabalho e um futuro a ser construído, o Segundo dia de Páscoa, conquistou uma importante data no calendário da colônia e povoou durante décadas o imaginário coletivo. Hoje, restam apenas memórias e registros da tradição entre as famílias de imigrantes, que acabou por enfraquecer com o tempo em terras tropicais.
Prettige Paasdagen (Feliz Páscoa!)