Ficha Técnica:
Curadoria – Fernanda Homann Hrycyna
Projeto Gráfico – Lucas Los
Apoio e Direção de Arte – Felipe Pedroso
Montagem:
Karen Barros
Natália Westphal
Leonardo Pugina
Imagens: Acervo APHC
Resgatando
lembranças
Em 1911 chegaram a Carambeí as primeiras famílias de colonos holandeses. O estabelecimento dos imigrantes logo transformou-se no imaginário da colônia uma verdadeira saga dos pioneiros. A história de homens e mulheres de carne, osso e vontade foi contada e recontada de diversas maneiras, por diversos meios em diversos tempos. Os desfiles realizados em comemoração aos aniversários da colônia consistiram em modos de produzir discursos sobre a memória e sobre a identidade da comunidade. Registrar e legar à posteridade momentos, causos e acasos era algo muito caro aos pioneiros em uma nova pátria, e a prerrogativa de se ter uma câmera fotográfica era para poucos.
Pretende-se com a mostra fotográfica resgatar a lembrança de alguns momentos dedicados à celebração da memória e da identidade carambeiense. A exposição apresenta imagens dos desfiles comemorativos, realizados a cada 25 anos a contar da data de fundação da colônia, que narraram a história de Carambeí através de suas alegorias.
A captação
de um momento
Os desfiles comemorativos são maneiras de uma sociedade se reconhecer e se apresentar perante ela mesma e perante o mundo, construindo sua identidade, resgatando sua memória, deixando ver sua história e seus anseios para o futuro.
A cada época corresponde um contexto sociocultural, permeado de valores e princípios que as sociedades projetam sobre elas mesmas. Com a sociedade carambeiense não é diferente. Conforme o tempo passa, a sociedade projeta sobre si uma determinada visão sobre sua formação histórica e identitária, o que pode ser visualizado através da realização dos desfiles comemorativos, conforme nos mostram as fotografias.
Ao interpretar as fotografias, é possível compreender como a história de Carambeí e a memória das personagens se preservou a partir dos desfiles. A fotografia é a prova de um olhar. É a captação de um momento, com o objetivo de servir à posteridade. A fotografia preserva, guarda uma experiência não mais vivida, uma experiência que já restou acabada nos campos da história. Olhar uma fotografia é ter o vislumbre de um momento que já terminou.
Os 25 anos
O primeiro desfile comemorativo foi realizado em 1936, quando a colônia era jovem. As fotografias evidenciam uma paisagem rural. A plateia, que não era numerosa, formada pelos próprios colonos, se reunia para assistir ao desfile na beira da estrada de chão. Crianças representam nações indígenas* e profissões (dentista, cozinheiro). A representação do passado dizia respeito ainda a uma identidade holandesa, como mostra uma fotografia da representação do príncipe Bernard e da princesa Juliana e de São Nicolau.
A representação de populações indígenas em uma das fotografias indica uma preocupação em resgatar a memória do povo que estava originalmente no território. Isso se explica devido ao contexto nacional da época, o que demonstra que os imigrantes já estavam se assimilando à cultura brasileira. A década de 1930 é marcada pelo ideário político do nacionalismo, que tinha por interesse forjar uma identidade nacional brasileira, a qual teria sido resultado da “mistura das três raças”, o que significava: o brasileiro é aquele que está em território nacional, cuja história é marcada pela presença do índio, do negro e do branco.
Carambeí 50 anos
Em 1961, a Cooperativa Batavo pagou todas as despesas com a comemoração do cinquentenário da colônia. Mais um desfile fora organizado, só que dessa vez, os tratores transportavam as alegorias.
As fotografias que compõem a mostra registram a preocupação no resgate da história da formação da colônia. Em uma das fotos, vemos a representação dos moradores que estavam em Carambeí antes da chegada dos holandeses. Em outra, a fabricação do queijo é retratada. Em uma outra foto, há o registro de que na colônia o esporte também era assunto importante.
Carambeí Ontem e Hoje – os 75 anos
Em 1986 comemorou-se os 75 anos de imigração holandesa em Carambeí. Nesta comemoração, o discurso sobre a formação histórica e identitária carambeiense encontrava-se melhor elaborado. A representação de vários povos, de instituições, a presença de grupos escolares indicam uma sociedade cuja história já estava bem consolidada. Lia-se num registro do jornal da Cooperativa Batavo:
“A criatividade, o trabalho, o dinamismo e o poder de realização de nossa gente pôde ser medido por esta memorável apresentação que retratou em detalhes minuciosos todos os aspectos da histórica evolução de Carambeí até a realidade forte e progressista que hoje vivemos, sem deixar de abordar nossos anseios de futuro, como um município, livre e crescente” (Jornal Batavo – 130 – ano XI – Novembro 1986)
A formação das identidades está atrelada à constituição das memórias. Quer dizer, o que entendemos ser, não ser e desejamos ser, depende de nossa percepção sobre aquilo que vivemos. De acordo com um sociólogo francês, Maurice Halbwachs, a memória é construída coletivamente, ou seja, a percepção daquilo que vivemos é projetada de maneira coletiva.
Os desfiles comemorativos são dessas experiências coletivas, cuja centralidade se volta a uma representação sobre alguma questão que diz respeito à coletividade. Ou seja, são eventos sociais que têm por objetivo apresentar à sociedade algum aspecto sobre ela mesma. Neste caso, os desfiles comemorativos são eventos que têm como centro a representação da história de Carambeí, como se pode interpretar as fotografias. A realização destes desfiles conforma e ativa a formação da memória coletiva, de modo a ratificar o sentimento de pertencimento, sendo este elemento necessário para a afirmação da identidade do grupo.