Este espaço, disposto em forma de exposição de longa duração é uma homenagem a todas as mulheres que residiram, residem e que de alguma forma ajudaram no desenvolvimento de Carambeí: anônimas, imigrantes, descendentes, trabalhadoras, artistas, mães, filhas, netas, esposas. Mulheres comuns que destinaram seus esforços à construção dessa comunidade.

 

A exposição tem o intuito de trazer a figura feminina para o protagonismo de sua própria história, contando com o revisionismo histórico de um olhar feminino sobre o passado.

Usando do simbolismo da representação da casa sede da Fazenda Carambeí, a mais antiga construção da localidade e pelo papel que ela representa principalmente pela figura matriarcal e emblemática de Francisca de Paula Lima, a “Sinhara de Carambeí”, uma senhora distinta que foi descrita até mesmo pelo naturalista, botânico e viajante francês Auguste de Saint-Hilaire em passagem pelos Campos Gerais:

 

A “sinhara” usava um vestido de chita, muito decotado e um chale do mesmo tecido, cujas pontas caíam de cada lado do peito. As pernas nuas e os cabelos arrepanhados por um pente. Usava um comprido colar de ouro e, nas orelhas, brincos de diamantes.

 

A residência que fora de Francisca, agora, nessa reprodução do museu, abrigará a memória, história e a trajetória de milhares de mulheres que fizeram de Carambeí seu lar.

CASA, LAR E O TRABALHO DOMÉSTICO

Era de responsabilidade das mulheres o cuidado com a casa, comumente chamado de “assuntos do lar”. Atividades como lavar e passar eram diárias e na antiga colônia, nos primeiros anos, não havia eletricidade. O trabalho era praticamente manual, quando havia muito trabalho usava-se instrumentos mecânicos que necessitavam de muita força.

 

Naquele período lavava-se as roupas utilizando a água do poço ou deslocava-se até os riachos. Após lavar as roupas, elas eram torcidas e posteriormente passadas com os pesados ferros a-brasa. Os assoalhos de madeira das casas eram encerados manualmente. Usava-se também enceradeiras de ferro e madeira.

 

As mulheres auxiliavam seus esposos nas atividades rurais e pecuárias, evidenciando um espaço que a mulher ocupava na dinâmica da antiga colônia: ordenha do leite, fabricação de queijos, plantação de grãos e hortaliças e o cuidado com criação de animais eram muitas vezes, parte de seus afazeres.

PRÁTICAS ALIMENTARES E A DIFUSÃO DO SABER CULINÁRIO

Comida é cultura, memória, afeto. Comida faz parte da história. Por meio de receitas, muitas vezes centenárias, o saber culinário de técnicas, ingredientes e modos de preparo são difundidos entre gerações de mulheres: um saber que é considerado como se fosse uma jóia preciosa famíliar passada de mãe para filha.

 

Entre cadernos de receitas pessoais, livros culinários e recortes de revistas e jornais com as mais diversas receitas, que muitas vezes levavam um toque pessoal na sua execução. Essas mulheres fizeram de seus lares um lugar seguro e caloroso, representado, principalmente, pelo seu trabalho e o cuidado em preparar a refeição de toda a família.

 

Do pão sovado de cada dia, assado em forno de barro ou pedra, do biscoito simples, do guisado das refeições cotidianas e triviais às receitas mais elaboradas para comemorações especiais, essas receitas e pratos contam uma história nas entrelinhas: o sabor da infância, a lembrança do aroma e de tantas outras sensações despertadas.

 

O papel de passar adiante as tradições culinárias foi das mulheres por serem detentoras desse saber.

TRADIÇÃO De TORTAS e bolos

Foi entre as mulheres da Colônia Carambehy, que se difundiu a tradição das tortas. No início da imigração holandesa, em 1911, e, nos anos seguintes, tortas e bolos eram considerados uma extravagância. Bolos simples como milho, fubá, laranja ou massa branca eram preparados somente em dias especiais, principalmente aniversários e casamentos.

 

Com o passar dos tempos e com mais recursos financeiros advindos principalmente do sucesso da cooperativa, ousou-se incrementá-los com recheios de frutas, doces e geleias e cobri-los com clara de ovos ou nata  batida, porque no vilarejo havia uma vasta expansão láctea.

 

As tortas eram raras no início da imigração e seguiam a tradição holandesa, mais secas – sem cremes ou excessos – e não muito doces. Podiam ser de especiarias, coco ou frutas, no entanto, a mais tradicional, no primeiro decênio do século XX, era a torta de ruibarbo, uma herança popular entre as primeiras famílias e também geitenspek, especie de pavê com base de gordura suína que possivelmente deu origem às tortas de hoje.

SOCIABILIDADE

Na década de 1920, os jovens vindos da Alemanha fundaram em Carambeí, uma associação de práticas esportivas. Eram também dadas aulas de ginástica. Os mais idosos da colônia não gostavam da ideia, e reprovavam que as moças participassem dessas práticas esportivas com roupas apropriadas para esse fim.  Essa regulação moral é estritamente relacionada com a religiosidade. No entanto, algumas moças resistentes praticavam esportes oferecidos na colônia – ginástica e handebol com times organizados somente com moças e eram disputadas partidas com equipes mistas.

 

Não era somente o traje de esporte que sofria regulação pelos mais velhos, a moda era constantemente reprovada nos costumes da colônia. Predominava naquele período o pensamento de que a verdadeira mulher cristã tinha que hesitar em aceitar a moda. Estar na moda, então seria inimaginável. O uso de maquiagem era considerado um ato imoral.

 

Com a chegada de mais famílias imigrantes no decorrer do tempo, era inevitável uma certa influência das moças recém- chegadas, revistas dedicadas às mulheres e populares na Holanda como “Margriet” acabavam por se espalhar entre as jovens moças, que almejavam trajes, produtos de beleza e penteados.

O espaço de sociabilidade da mulher sofreu alterações no decorrer do tempo no pequeno vilarejo. Algumas mulheres admiravam o hobby praticado especialmente pelos homens: a caça – antes restrito a classes privilegiadas na Europa.No pós-guerra, com a criação da Cooperativa Central de Laticínios do Paraná Ltda, a C.C.L.P.L, muitas mulheres, que comumente eram enviadas para estudar fora, ocupavam cargos nos escritórios. A industrialização da cooperativa atraiu também muitas migrantes de localidades próximas e também novas imigrantes. Essas mulheres passaram a ocupar papéis na produção da indústria, e em trabalhos indiretos: muitas delas mães de famílias operárias, ofereciam pensões, refeições, serviços de lavanderia e costura.

RELIGIOSIDADE

Foram muitos os desafios nos primeiros anos de vida na pequena colônia. Um dos fatores determinantes na união da comunidade foi a religiosidade. Em 1913, quando chegou a família De Geus, a esposa de Aart Jan de Geus, Srª. Leentje Kranendonk, fez sentir o seu amor e respeito por Deus, tornando-se uma das maiores defensoras para guardar essa herança religiosa dos antepassados da Holanda. Foi ela que tomou a iniciativa de realizar cultos aos domingos e insistiu a Brazil Railway Company para ceder uma casa de colono, que durante a semana servia de escola e aos domingos de igreja.

 

O “Templo” era pequeno e simples, mas suficiente para o pequeno grupo. De vez em quando, um pastor de origem alemã que residia em Ponta Grossa ou Castro, conduzia o culto, no qual as crianças recém-nascidas eram batizadas.

No ano de 1935, com a instituição do grupo de moças Esther, foi criada a primeira organização feminina da comunidade: a Associação de Moças Cristãs. Já na década de 1940, com uma sede própria para a igreja e com a chegada do Pastor Muller e sua esposa Charlotte, algumas iniciativas foram colocadas em prática. Srª. Muller organizou associações de moças e senhoras, sob o nome de Associação de Mulheres Cristãs, que prosperaram muito com sua maneira inspiradora de conduzir.

A primeira reunião ocorreu em sua casa, cujo local abrigaram-se, por décadas, os encontros de moças e senhoras. Com o objetivo de aprofundar os conhecimentos cristãos de mulheres na primeira parte da reunião, eram realizados estudos bíblicos, prática que permanece até os dias atuais. Na segunda parte da reunião a Senhora Charlotte organizou grupos de trabalhos manuais, bordados, crochê, costura e outras técnicas de trabalho manuais que foram incluídas ao longo do tempo.

HÁBITOS E COSTUMES

Entre as mulheres, o primeiro passo na construção da identidade deu-se perante a necessidade de definir a sua nacionalidade: a sua bagagem cultural. Assim, é possível desvelar que essas mulheres, antes de mais nada, construíram a imagem de si mesmas perante a percepção de quem eram: imigrantes, filhas de imigrantes holandeses, alemães, italianos, portugueses, indonésios, poloneses, esposas de imigrantes, de filhos de imigrantes, portanto detentoras de traços culturais e de hábitos e costumes singulares, trazidos pelo seu grupo de local de origem. Falavam outro idioma, tinham outros gostos musicais, culinários e artísticos. Outro padrão de beleza.

 

Adiante, o processo de construção da identidade social levou essas mulheres a perceberem-se como membros de um grupo social e de trabalho, eram imigrantes, eram filhas de imigrantes e eram trabalhadoras. Dentre os hábitos e costumes que introduziram e perpetuaram na colônia foi o do tapete sobre a mesa, o chá das dez da manhã e das cinco da tarde, a herança alimentar e práticas manuais de artesanato. 

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