As vendas na Colônia de Carambehy – Espaços de comercialização e sociabilidade
Antiga venda da Colônia de Carambehy – local de encontro dos imigrantes
As vendas desempenharam um papel de extrema relevância nas relações sócio econômicas das cidades no começo do Século XX, eram esses espaços que garantiam vários gêneros alimentícios e outros produtos que podiam vir a servir a comunidade, como: ferramentas, bebidas e produtos pessoais. Por esses motivos as vendas e mercearias são comparadas aos pequenos mercados que surgiram posteriormente.
Nesse sentido de aproximação é que notam-se as diferenças entre ambos os estabelecimentos e as sociabilidades que se desenvolvem e se experimentam em lugares de encontro de pessoas. As bebidas alcoólicas são fator crucial e um ponto que deve ser dado importância nas mercearias em relação aos mercados. Pois, os mercados tem o papel claro de abastecimento das residências, sem espaço para tomar uma cerveja, jogar e dançar, como anteriormente era observado em alguma das mercearias e vendas.
Outro ponto é a disposição dos produtos que ficavam atrás de um balcão, somente o vendedor tinha acesso e talvez o mais curioso e mais interessante sistema de crédito: o comprar “fiado”, que era regulado por uma caderneta onde o proprietário regulava as saídas dos produtos e as respectivas contas de seus clientes. Esse sistema de crédito era adquirido através da confiança proprietário/cliente.
Existiram duas vendas pioneiras na colônia de Carambeí na primeira metade do século XX, ambas tiveram papel importante no abastecimento de diversos gêneros alimentícios e artigos de uso cotidiano. Uma venda pertencia ao Sr. Hendrik Harms e a outro era do Sr. Leonardo Los. Aos sábados a noite os jovens solteiros que moravam e trabalhavam na colônia viam na venda do Sr. Leonardo Los um espaço de diversão, onde compravam cerveja, vinho e cigarros, cantavam e contavam histórias.
Essa contextualização não só mostra a importância das mercearias no abastecimento das casas da então, chamada Colônia de Carambehy, como também uma lógica de convivência que existia no século XX na região, onde os imigrantes que aqui viviam podiam se divertir e jogar conversa fora em um verdadeiro espaço para o ócio. As vendas eram verdadeiros espaços de sociabilidade e informação, pela dificuldade de acesso a cidades maiores como Castro ou Ponta Grossa, eram nesses espaços, que possuíam um fluxo razoável de pessoas, que os colonos buscavam por informações e novidades.
Os encontros também se davam em outras esferas de sociabilidade como na Igreja e no trabalho, o que era totalmente diferente da lógica que se estabelecia no convívio nas vendinhas.
Réplica de Leonardo Los – proprietário de uma das vendas da Colônia Carambehy
Interior de uma venda de 1930 – Reprodução feita na Casa da Memória
Texto: Pablo Uliana – Graduando em História Bacharelado pela UEPG e estagiário do Núcleo de História e Patrimônio do Parque Histórico de Carambeí